Comigo seria diferente – sério mesmo?

É manhã em Israel. O sol nasce devagar, preguiçoso por dentre as montanhas enquanto um certo profeta faz seu desjejum matinal. “O que dia trará?” pode ter sido seu primeiro pensamento. As ideias rodavam despretensiosas em sua mente, enquanto saboreava o leite e o pão feitos no dia anterior – “este será um dia promissor”, pode ter pensado, até que uma sensação de urgência começa a brotar em seu coração.

Ele sabia do que se tratava. Era o Senhor chamando sua atenção, pronto a lhe dar instruções sobre onde ele deveria ir profetizar a Palavra do Altíssimo, o Santo de Israel.

“Irei a Jerusalém?”, deve ter pensado… “ou quem sabe uma visita à Nazaré? Faz tempo que não apareço por aquelas bandas…” e então ela veio, a voz inconfundível do seu Deus:

“Veio a palavra do Senhor a Jonas […] vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim.”  (Jn 1.1,2)

Jonas fica paralisado…. a fome repentinamente se esvai e os pensamentos agora pipocam em sua mente numa vertiginosa rapidez. Nínive?

Uma ordem clara e surpreendente. Nínive era a capital da Assíria, uma nação perversa e considerada uma ameaça pelos israelitas. E o Senhor o estava comissionando justamente para profetizar àquele povo.

O momento é dramático (para não dizer cômico). O profeta não esboça nenhuma reação aparente. Ele guarda calmamente a louça, arruma a cama, faz as malas e sai. Não há palavras em seus lábios. Ele não ousa olhar para o céu, sabendo que o Senhor estava, de qualquer modo, observando tudo. Um medo tolo, como se Deus não conhecesse aquilo que se passava em seu interior. Jonas fecha o portão de sua casa e toma uma rápida decisão: “Bom…Nínive fica a uns 800 quilômetros a noroeste daqui. Então vou para o outro lado, a sudeste, em direção à Tarsis”. E segue o profeta então em plena fuga.

É isso mesmo que você leu. A Bíblia diz que Jonas simplesmente foge. O motivo ? Ele mesmo confessa a Deus – acompanhe:

“…sei que és Deus piedoso e misericordioso, […] grande em benignidade…” (Jn 4.2b). Em outras palavras, Jonas fugiu por não querer ver a salvação de Deus operando no meio de um povo que ele não gostava e que considerava indigno da graça divina. A seus olhos, a justiça divina seria mais compatível com a destruição daquelas pessoas, e não a salvação.

Será que somos diferentes de Jonas? Separados pelo tempo e circunstâncias, podemos confortavelmente julgar sua atitude e bater no peito dizendo: comigo seria uma outra história! Somos tão diferentes dele assim? Medite na possibilidade de nossos relacionamentos estarem debaixo de semelhante senso de justiça própria. Nas ocasiões onde excluímos os que pensam diferentes de nós (e nem vou citar a polarização política hoje no Brasil). Concluímos que nosso senso de justiça é o do Senhor – e quando descobrimos que não é, não suportamos a graça do Senhor e fugimos. Deixamos as pessoas de lado, abandonando a misericórdia e abraçamos o legalismo.

Há algum escape? Sim. Ler a realidade a partir da perspectiva bíblica. A cura envolve em receber dEle a visão correta; e é isso que o Senhor vai fazer com Jonas.

“…não hei eu de ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que estão mais de cento e vinte mil homens, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua esquerda…” (Jn 4.11).
Enquanto Jonas os enxergava como um bando de pervertidos e indignos de qualquer misericórdia, o Senhor os via como “…ovelhas que não tem pastor ”.

Lembre-se sempre disso: antes de julgar alguém, procure saber de sua vida. Suas lutas, as dificuldades que superou até chegar ali. É fácil emitir uma opinião a partir de um ponto de vista particular. Entretanto, é cristão estender a mão, abraçar e, com o coração embebido do amor de Cristo, afirmar: “Está tudo bem. Nosso Salvador não veio buscar os sãos, mas sim os doentes…” (Mt 9.12).