Sim – Jesus me desiludiu

Isso mesmo, nobre leitor. Jesus me desiludiu.

Como assim? Jesus trazendo desilusão?

Permita-me, nessas poucas linhas, explicar melhor isso. Não foi da ‘noite para o dia’, mas um processo. Com o passar dos anos, pude perceber isso mais claramente. E já adiantando, não foram poucas as desilusões, foram inúmeras.

Tudo começa a partir da cosmovisão.

Todo ser humano possui, de algum modo, uma cosmovisão. De modo simples, cosmovisão trata basicamente da maneira como ‘lemos’ o mundo ao nosso redor. Por exemplo, você está no trabalho e certo dia um novo funcionário é contratado. Vocês trocam apenas algumas palavras, mas sai com a impressão de que tal pessoa é retraída demais, quem tem algo de estranho nela.

Então, talvez mais alguém tenha a mesma sensação – confirmando a sua opinião. Aí você lembra de que alguém lhe disse para não confiar em ‘gente quieta demais’.

Pronto.

Sua visão do novo funcionário irá determinar tudo o que aquela pessoa fizer ou deixar de fazer. Você talvez mantenha distância dela, excluindo-a de um certo modo, até então descobrir (lembre-se de que estamos apenas no campo das hipóteses), que na semana de sua contratação ela havia descoberto um diagnóstico médico preocupante, ou que alguém de sua família está gravemente enfermo. Ou seja, sua aparente timidez nada mais era que um fruto de sua luta para manter-se de pé.

E aí, sua visão a respeito do novo funcionário mudaria?

Isso é cosmovisão. Eu, você e todos possuímos alguma cosmovisão. Ela é como uma espécie de ‘óculos’ de leitura, usado para ajustar a visão, determinando suas ações, pensamentos e reações diante de qualquer fato da vida.

Se uma cosmovisão está comprometida, tudo o mais também estará. Facilmente o ser humano é enganado e vive numa ilusão, que não condiz com a total realidade. Há os que têm mania de perseguição, os que perseguem, os desconfiados, os inocentes… todos com sua própria visão de mundo. Mas basicamente, tendemos a achar que o mundo gira ao nosso redor, esquecendo que somos os ‘outros’ dos ‘outros’.

Como diz o ditado, “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Ilusão seria, então, uma espécie de cosmovisão falsa. Segundo a Wikipédia, ilusão é “…uma confusão dos sentidos que provoca uma distorção da percepção […] Uma vez que a percepção é baseada na interpretação dos sentidos, as pessoas podem experimentar ilusões de formas diferentes“.

Você já foi iludido? Sofreu alguma decepção por acreditar em algo e depois descobrir a verdade?
Esse é o ponto. Em maior ou menor grau, todos vivem sua própria ilusão da realidade. Seja ela política, sociológica, cultural. Isso ainda é reforçado pela época relativista em que vivemos, onde cada um afirma possuir a verdade.

Como cristãos, temos como lastro da realidade as Sagradas Escrituras, e a partir dela podemos, de fato, ler o mundo. E o Evangelho faz isso: nos des-ilude. Ele retira a ilusão do homem como centro de tudo, do homem autossuficiente, do homem eterno, do homem empoderado em pensamos positivos que não levam a lugar algum.

E foi aqui que Jesus me desiludiu; ou melhor, me des-iludiu. Ele tem retirado dia após dia as mentiras que um dia considerei como verdade. Com Jesus descobrimos que não somos o centro, Ele é. Com Jesus aprendemos que repartir é melhor do que receber, que mais vale preservar a alma que ganhar o mundo, que os últimos serão os primeiros, que o valor não está no que se tem, mas no que se é. Que vida real não é a das capas de revistas, mas é partilhada na íntima comunhão do lar. Que a melhor vida é a vida simples.

Enfim – com Jesus aprendemos que a morte não é o fim.

“disse-lhe Jesus: aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11.25).